Um quarto dos alunos de escolas particulares paulistas termina o ensino médio com conhecimento insuficiente em Matemática. Isso quer dizer que eles, aos 17 anos, não conseguem determinar a área de um retângulo ou resolver problemas com porcentagem e probabilidade. A quantidade de estudantes no pior nível de aprendizagem (24,5%) em São Paulo – o Estado mais rico do País – é maior do que nas redes privadas do Piauí, Mato Grosso do Sul ou Minas Gerais.
A tabulação inédita, divulgada nesta segunda-feira, 28, foi feita pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) com base nos microdados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), do Ministério da Educação.
A prova é realizada por uma amostra representativa de escolas particulares do País e não são divulgadas as instituições que participam.
Alunos têm aula de Matemática em escola particular da capital Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Já na rede pública, todos os alunos de 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental do País e do 3º ano do médio realizam o Saeb. Nas escolas estaduais, 59% dos alunos brasileiros se formam sem saber o básico em Matemática; são 56% entre os paulistas.
Os resultados mostram que apesar de ser grande a desigualdade educacional no País entre alunos de escolas públicas e privadas, pagar mensalidades não é garantia de um ensino de qualidade em muitos lugares. Considerando as médias das redes particulares de todos os Estados, 25% dos alunos têm resultado insuficiente em Matemática e 10% em Português.
O Iede usa uma classificação de níveis de aprendizagem (adequado, insuficiente e básico) feita a partir de interpretações de especialistas em avaliação; o MEC apenas divulga o desempenho em uma escala numérica.
Por outro lado, a tabulação mostra que 33% dos estudantes de São Paulo estão no nível considerado adequado para Matemática ao terminar a escola particular, o que inclui tanto os que têm desempenho entendido como proficiente como o que estão entre os avançados.
Eles sabem resolver equações de 2º grau, fazer operações que envolvam o conceito de lucro ou o Teorema da Pitágoras.
No Brasil, esse índice é de 30% nas escolas privadas em geral. Já nas públicas, são apenas 5,2% dos alunos.
“Alunos de famílias ricas têm uma chance bem maior de chegarem a um bom nível de aprendizagem no Brasil, no entanto, na Matemática, o desafio quase que se universaliza. Há muitos pagam mensalidades caras em escolas privadas, com um nível de aprendizagem muito baixa na disciplina”, diz o diretor executivo do Iede, Ernesto Faria. “A Matemática é um desafio para a grande maioria das escolas do país, sejam públicas ou privadas.”
A Matemática é considerada um grande gargalo na educação brasileira e em vários países, com resultados piores do que os registrados em provas de linguagens. Como mostrou o Estadão, experiências no mundo todo têm olhado para uma educação matemática mais criativa, que sai do abstrato e de aulas focadas na memorização.
No Brasil, um movimento para novas políticas públicas na área ganhou força este ano, tentando melhorar os resultados desastrosos. O governo federal deve lançar um programa para incentivo à educação matemática, com metas de aprendizagem na disciplina para governos e prefeituras.
A ideia é a de mudar atitudes e crenças erradas com relação à Matemática, levando em conta novas pesquisas da neurociência que indicam que qualquer pessoa pode ter um bom desempenho na disciplina se o ensino for diferente.
Os resultados tabulados agora são de provas feitas em 2023, as mais recentes do Saeb, que é um exame bienal. Segundo análises feitas pelo Todos pela Educação, a quantidade de alunos no 5º, 9º e 3º ano com aprendizagem adequada melhorou com relação a 2021, mas ainda não atingiu patamares pré-pandemia.
Tanto em Matemática quanto em Língua Portuguesa, quanto mais velhos os estudantes, pior o desempenho – na rede pública e na privada.
Em Matemática, a quantidade de alunos de escolas particulares brasileiras que têm desempenho adequado no 5º ano é de 72%, indo para 49% no 9º ano e 30% no 3º ano do ensino médio. Na Língua Portuguesa, são 82%, 68% e 66%, respectivamente.
O letramento matemático não é só sobre fazer contas, explicam especialistas. Ele está na análise de dados e na avaliação crítica de informações, habilidades essenciais no mundo atual.
Há ainda consequências do ensino pouco eficiente da Matemática na produtividade do País. Como mostra um estudo feito pela Fundação Itaú, trabalhadores em ocupações que usam muito a Matemática têm maior nível de escolaridade e menor taxa de informalidade do que a média geral, o que leva a maiores salários.
Não investir em Matemática também aprofunda desigualdades; estudantes pretos e pardos se saem pior nas avaliações da disciplina e também estão menos representados entre os trabalhadores da área.
Fonte ==> Estadão