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Redemoinhos de poeira em Marte têm ventos de até 158 km/h – 10/10/2025 – Ciência

Redemoinhos de poeira em Marte têm ventos de até 158 km/h - 10/10/2025 - Ciência

Duas décadas de observações permitiram rastrear redemoinhos de poeira que regularmente surgem na superfície de Marte, revelando detalhes do clima e do tempo do planeta vermelho. Os achados foram descritos em um estudo publicado na última quarta-feira (8) na revista Science Advances.

Os autores do trabalho catalogaram 1.039 redemoinhos, na análise mais completa sobre o tema já feita. Para isso, recorreram aos dados das sondas Mars Express, desde 2004, e ExoMars Trace Gas Orbiter, desde 2016. Ambas são da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

Há décadas, cientistas já conhecem a existência desses redemoinhos, que se formam quando o ar mais quente próximo à superfície começa a subir e é girado por ventos horizontais, recolhendo a poeira do solo e se dissipando poucos minutos depois.

“As principais descobertas são que os ventos em Marte podem ser mais rápidos pela superfície do que se pensava antes e, também, que esses ventos rápidos são mais difundidos do que se acreditava”, afirmou o cientista planetário Valentin Bickel, da Universidade de Berna (Suíça), autor principal do estudo.

A velocidade dos ventos nos redemoinhos cujos dados foram examinados chegou a 158 quilômetros por hora. A velocidade média era de 64 quilômetros por hora. No entanto, há uma ressalva em relação a este último dado: o método empregado pelos pesquisadores provavelmente não detectou muitos redemoinhos mais lentos.

De acordo com Bickel, o estudo mediu os ventos mais rápidos ao nível da superfície já identificados no solo marciano. Embora as velocidades sugiram que esses ventos seriam poderosos, isso não é o caso em razão de a atmosfera do planeta ser muito mais rarefeita em comparação com a da Terra.

“Você mal sentiria os ventos marcianos”, disse o cientista.

Os redemoinhos de poeira apareceram com maior frequência nas planícies das terras baixas do norte, mas também houve registro no terreno acidentado das terras altas do sul. Alguns locais eram especialmente propensos, a exemplo da Amazonis Planitia, que é uma das extensões mais suaves de planícies no planeta e fica entre as duas principais regiões vulcânicas de Marte.

Eles foram observados com mais frequência durante o verão marciano, do final da manhã até o início da tarde, quando as condições eram mais propícias. O maior observado tinha em torno de 580 metros de diâmetro. A média, nesse caso, era de 82 metros.

Esses redemoinhos também são vistos na Terra em lugares secos e empoeirados, como os desertos dos estados americanos do Arizona e Nevada. Contudo são muito menos comuns porque nosso planeta é muito mais úmido que Marte.

“Como a atmosfera marciana é tão fina e a superfície, seca e empoeirada, ela pode se aquecer rapidamente sob o sol, tornando-se mais propensa a redemoinhos de poeira”, afirmou a coautora do estudo Antonia Schriever, cientista planetária do Centro Aeroespacial Alemão.

O estudo mostrou que ventos fortes próximos à superfície são abundantes em Marte e desempenham um papel importante na injeção de poeira na atmosfera. A descoberta pode resultar em modelos mais precisos do clima, condições atmosféricas e meteorológicas do planeta.

A quantidade de poeira elevada para a atmosfera marciana é crucial para o início de tempestades de poeira, formação de nuvens e até mesmo liberação de vapor de água para o espaço, segundo Schriever.

“Ao estudar os redemoinhos de poeira, podemos entender melhor os processos que ocorrem na superfície marciana”, disse a pesquisadora.

A poeira persiste na atmosfera marciana por um longo tempo, sendo soprada pelos ventos ao redor do planeta. Na Terra, a chuva e a umidade removem regularmente a poeira da atmosfera. A poeira suspensa na atmosfera marciana pode manter as temperaturas diurnas mais frias ao filtrar a luz solar e as noturnas mais altas ao reter o calor próximo à superfície.

A pesquisa pode contribuir para o planejamento de eventuais missões a Marte, na avaliação de Bickel. “Nossos dados poderiam ser usados para entender melhor a dinâmica atmosférica de locais específicos de pouso e até mesmo do lançamento de uma nave espacial. Podem ainda fornecer uma primeira estimativa da abundância de redemoinhos de poeira, bem como a distribuição de velocidades e direções do vento em uma região específica.”



Fonte ==> Folha SP – TEC

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