A reforma ministerial promovida em doses homeopáticas há quatro meses somente merece esse nome, até o momento, pelo critério quantitativo —e olhe lá.
De janeiro para cá, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) providenciou a troca do comando de 6 das numerosas 38 pastas do Executivo federal, já incluída na conta a troca de Cida Gonçalves por Márcia Lopes no Ministério das Mulheres, oficializada nesta segunda-feira (5).
Já no aspecto qualitativo, as substituições não ampliam nem tornam mais coesa a coalizão partidária de apoio ao Palácio do Planalto. Tampouco buscam nomes de maior expressão em suas áreas ou visam novas orientações de políticas públicas.
O único caso de mudança com claro objetivo gerencial se deu na Comunicação Social da Presidência —vale dizer, na propaganda oficial. Mas o ingresso no gabinete de Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha de Lula, mira muito mais as eleições do próximo ano do que a melhor prestação de informações à sociedade.
Outras duas trocas, cumpre recordar, nem mesmo estavam programadas e ocorreram por motivos vexatórios para o governo. Juscelino Filho deixou a pasta das Comunicações após ser denunciado por corrupção relacionada a emendas parlamentares, e Carlos Lupi teve de sair da Previdência Social na esteira do escândalo de fraudes no INSS ora em curso.
Em ambas as ocasiões, a administração petista substituiu seis por meia dúzia, ao menos do ponto de vista partidário: Comunicações continuou sob o comando do União Brasil, mesmo depois que o líder do partido na Câmara dos Deputados recusou o cargo de modo constrangedor, e o PDT manteve a Previdência.
As demais alterações atenderam basicamente a conveniências do PT. Na Saúde, ministério mais importante afetado, Nísia Trindade deu lugar a Alexandre Padilha, que cuidava da articulação política do Planalto à frente das Relações Institucionais.
Para o lugar deixado por Padilha foi Gleisi Hoffmann, até então presidente da sigla, uma escolha naturalmente controversa numa aliança que inclui, além dos tradicionais parceiros à esquerda, forças ao centro e à direita.
Os laços de interesse de Lula com MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos, todos representados no ministério, permanecem frágeis. Não apenas falta disposição da administração petista em compartilhar de fato o poder como as cinco siglas, que têm 47% da Câmara e 53% do Senado, já fazem seus próprios cálculos para as sucessões nacional e estaduais no próximo ano.
Como é dono da caneta presidencial e lidera as pesquisas, mesmo tendo perdido popularidade, Lula reúne condições de preservar alianças além do campo da esquerda. Vai perdendo oportunidades, porém, de montar um primeiro escalão mais qualificado, política e tecnicamente, e fazer um governo também de alcance mais amplo.
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Fonte ==> Folha SP