Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Resistência a antibióticos é crise silenciosa – 24/10/2025 – Opinião

Resistência a antibióticos é crise silenciosa - 24/10/2025 - Opinião

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde declarou que a resistência antimicrobiana (RAM) é uma das dez maiores ameaças à saúde. Desde lá, porém, a situação só piora, indicando que se trata de uma crise sanitária gradual e silenciosa —ao contrário das epidemias.

Relatório do Sistema Mundial de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos e de seu Uso (GLASS) de 2025, divulgado na segunda (13) pela OMS, mostra que 1 em cada 6 infecções bacterianas confirmadas em laboratório é resistente a antibióticos. De 2018 a 2023, a RAM aumentou 40% no mundo, com altas relativas anuais variando de 5% a 15%.

Pesquisas estimam que cerca de 5 milhões de mortes por ano estejam relacionadas ao problema. Segundo o Banco Mundial, se não for controlada, a RAM produzirá perdas anuais de US$ 1 trilhão a US$ 3,4 trilhões para o Produto Interno Bruto (PIB) até 2030.

No Brasil, o cenário é delicado. O levantamento da OMS, que cobre o período entre 2016 e 2023, mostra altas taxas de RAM no país. Mais de 50% das infecções urinárias causadas pelas bactérias Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae, por exemplo, apresentam resistência tanto a antibióticos comuns como aos de terceira geração —no vizinho Chile, essas taxas não alcançam 30%.

Em algumas infecções sanguíneas, supera-se os 40%, e, nas urogenitais provocadas por Neisseria gonorrhoeae, a RAM beira a universalidade com mais de 70%.

Trata-se de um caso de feitiço contra o feiticeiro. Se a descoberta da ação antibiótica há cerca de 90 anos foi um feito notável da ciência que salvou milhões de vidas, sua aplicação indiscriminada gerou infecções que não respondem aos remédios.

Não só em humanos. O uso de antibióticos em larga escala na agropecuária também impulsiona o surgimentos de micróbios cada vez mais resistentes.

No Brasil, há gargalos estruturais. A atenção primária em saúde é ampla, o que facilita o acesso a esse tipo de medicamento sem muito controle, já que a rede carece de serviços de diagnósticos essenciais para atestar que a infecção é de fato bacteriana e o tipo de patógeno —muitas vezes o antibiótico é receitado para casos virais ou não é o mais indicado para determinada bactéria.

Outro problema é a precária cobertura de vigilância da RAM, ainda concentrada em hospitais terciários (os de alta complexidade) e com baixa representatividade da região Norte.

Racionalidade é a chave aqui, seja na prescrição de antibióticos, seja na alocação de recursos no sistema público de saúde.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

Relacionados