“Estou realmente me sentindo homenageado”, tentou resumir o ator, dizendo-se encantado com as salas cheias e o interesse demonstrado por imprensa e público por O Último Azullonga de Gabriel Mascaro no qual atua e que foi exibido fora de competição na sexta-feira. Em conversa com os jornalistas, Santoro explicou que, ao saber que a homenagem dava peso especial à sua carreira internacional, viu-se levado a uma série de reflexões. De fato, desde seu primeiro longa fora do País, As Panteras Detonando (2003), o ator tem mantido consistente carreira internacional, com atuações em produções como 300Assim, O Último DesafioAssim, Em Busca da Justiça e Ben-how – tudo isso, claro, em paralelo com uma consistente filmografia junto a realizadores brasileiros.
“Nunca enxerguei as duas coisas (cinema brasileiro e estrangeiro) com separação. Mas esse prêmio tem um caráter muito particular, e se conecta com um momento de reflexão sobre a minha vida, ligado ao fato de que vou fazer 50 anos – o que, na nossa sociedade, é um marco, e acima de tudo um grande tabu. Tudo isso se mistura em mim, ainda mais sendo aqui, o primeiro festival que eu frequentei, ainda como espectador de cinema”, explicou.
Além de todos esses sentimentos, junta-se ao caldeirão a série de reconhecimentos recebidos pelo cinema nacional nos últimos anos, como os prêmios recebidos pelo diretor Kleber Mendonça Filho e o ator Wagner Moura em Cannes, pelo longa O Agente Secretoe o sucesso de Ainda Estou AquiOscar de Melhor Filme Internacional e que deu a Fernanda Torres o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro. O próprio Rodrigo Santoro está diretamente conectado a essa maré positiva, na medida em que O Último Azul recebeu recentemente o Urso de Prata no festival de Berlim, na Alemanha.
Rodrigo Santoro recebeu o Kikito de Cristal na noite de sexta-feira (15)
DIEGO VARA/PRESSPHOTO/DIVULGAÇÃO/JC
“Não lembro de algum outro ano tão particularmente potente para o cinema brasileiro”, admite o ator. “Há muitos anos, sempre que eu falo de onde venho, as pessoas respondem dizendo ‘Oh, Brazil!’, com um tom de entusiasmo, como uma exclamação. E eu tento, sempre que posso, falar que temos uma cultura muito diversificada, muito rica, que não fica só no futebol, no carnaval e nas belezas naturais. Eu acho muito bonito que isso esteja sendo reconhecido pelo mundo agora, e só tenho a agradecer por ser parte disso, agradecer a tudo que tive oportunidade de fazer na minha carreira, desde a primeira novela (Olho no Olhode 1993). “
Ao lembrar de alguns momentos, como a oportunidade de contracenar com o ídolo Benício Del Toro em Que (mesmo que, na época, dominasse com dificuldade o espanhol), Rodrigo Santoro precisou respirar fundo. Não que se trate, segundo ele, de uma tentativa de conter os sentimentos. “Ontem (no palco do Palácio dos Festivais) eu também me emocionei, é sempre assim. Nunca consegui e nem quero me controlar. Quando a emoção me atravessa, eu procuro sempre dar vazão, e o meu trabalho de ator se alimenta disso”, acentuou. Fiel à palavra, Santoro mostrou-se descontraído e animado durante a visita ao Cristais de Gramado, onde moldou parte da estatueta que será entregue na edição 2026 do Festival e pôde aprender alguns rudimentos da confecção da obra.
Para o futuro, Rodrigo Santoro diz estar aberto ao que vier – inclusive, quem sabe, eventuais oportunidades como diretor. Tudo isso, de qualquer modo, morando no Brasil: pensando no bem-estar da filha Nina, de 8 anos e que está entrando em idade escolar, Rodrigo e a esposa Mel Fronckowiak decidiram fixar residência no Rio de Janeiro. “Minhas filhas (eles também têm Cora, de 2 anos) viajaram muito na infância, mas agora é o momento delas de terem estabilidade e criar raízes”, explicou. O que não vai interromper a carreira do ator, que recentemente voltou de viagem de dois meses a um set de filmagens na Austrália. “Não tenho pretensão do que ainda quero fazer, o meu apetite é do que eu não tenha feito ainda”, resumiu.
Fonte ==> Folha SP