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São Paulo: cidade precisa unir alta e baixa tecnologia – 21/03/2025 – Mauro Calliari

A imagem mostra uma árvore caída em uma rua de uma área urbana, bloqueando a passagem. O chão está molhado, indicando que choveu recentemente. Ao fundo, há prédios e vegetação ao redor. A rua possui faixas de pedestres e um sinal de trânsito visível. Não há pessoas visíveis na cena.

O Brasil faz aviões, mas não tem conseguido manter árvores em pé. Os estragos das chuvas da semana passada expuseram as fraquezas de nossas cidades e estimulam a pensar em soluções melhores. Não apenas as grandes obras de capital intensivo, mas também aquelas pequenas e singelas, que podem, em conjunto, fazer a diferença.

Estamos falando daqueles elementos mais básicos da cidade, que exigem baixa tecnologia. Ou, como definiu, décadas atrás, o autor do influente “Small is Beautiful”, o economista E.F. Schumacher, a “tecnologia intermediária”, que pode ser replicada mesmo com carências de recursos. É onde estamos falhando miseravelmente.

Vejamos as calçadas. Elas funcionam há milênios, como turistas constatam numa visita a Pompeia. A tecnologia simples: escolher material adequado (e permeável, se possível), preparar o solo, aplicar a camada base e a mistura, aplainar e garantir 1,20 m para a passagem de um cadeirante ou duas pessoas. Não pode ter buracos e não pode deixar degrau entre a sua calçada e a do vizinho. Básico, mas não tem funcionado.

As árvores não são o inimigo, mas um amigo mal tratado. Para começar é preciso escolher bem a espécie a plantar. Para uma calçada estreita, a árvore ideal deve fornecer sombra sem ter raízes espalhadas demais. Aí, é preciso proteger a muda dos vândalos (e até da anelação, os cortes que os jardineiros fazem sem querer com aquelas serras circulares), regar, controlar doenças, manter livre de muretas e do cimento que esmaga as raízes.

Como se vê, parece o contrário do que se faz hoje e que contribui para a maior parte das quedas precoces de árvores. A fiação desorganizada, que obriga a uma ginástica ineficaz para cortar galhos, vai ser objeto de uma coluna só para ela.

Se a cidade precisa de mais permeabilidade, por que pensar apenas nos piscinões sem incluir as “piscininhas”, os jardins de chuva, canteiros, e até parklets específicos para acomodar nas ruas as raízes que já existem? O cuidado com as atividades básicas se estende ao lixo. Hoje, embala-se num saco plástico as folhas caídas (e todo nosso resíduo orgânico) que poderiam ser compostadas para produzir humus que iria realimentar as árvores.

A combinação da baixa e da alta tecnologia pode ajudar na replicabilidade e na manutenção. Replicabilidade é fazer com que uma boa experiência possa ser repetida milhares de vezes com sucesso. Tem a ver com treinamento, com processos e controles.

Já na manutenção, o problema é outro: é uma atividade minuciosa, de inspeção e de uso de dados, não há grandes licitações nem visibilidade. Não dá votos, mas é provavelmente uma das áreas onde a gestão pública mais deixa a desejar.

À prefeitura, caberia organizar isso tudo, divulgar as boas práticas, fiscalizar, mobilizar a energia dos voluntários, dos conselhos e do capital privado e, provavelmente, contratar mais equipes específicas. Tornar-se responsável pelo resultado como um todo, mas descentralizar as soluções. Usar a tecnologia para detectar problemas e priorizá-los, mas sem esquecer das soluções de baixa tecnologia para os elementos essenciais da cidade. Em outras palavras, o básico.



Fonte ==> Folha SP

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