Um novo satélite vai rastrear deslocamentos de terra e de gelo em quase todas as regiões do planeta. O equipamento é capaz de medir mudanças de até um centímetro.
O satélite foi lançado na semana passada em uma missão conjunta da Nasa com a Isro, agência espacial da Índia, e está em desenvolvimento há mais de uma década.
O satélite é conhecido como missão Nasa-Isro Synthetic Aperture Radar (Nisar). Segundo a Nasa, é o sistema de radar mais avançado que a agência já lançou.
Como os sinais de radar atravessam as nuvens, eles são ideais para monitorar a superfície da Terra. “Podemos ver tanto de dia quanto de noite, com chuva ou sol”, disse Paul Siqueira, professor de engenharia elétrica e de computação da Universidade de Massachusetts, Amherst, e líder de ecossistemas do Nisar.
Deformações na superfície da Terra podem fornecer alertas de desastres naturais como erupções vulcânicas e deslizamentos de terra. Medições das camadas de gelo revelarão quais áreas estão derretendo e quais estão crescendo por meio da acumulação de neve.
Os dados também poderão revelar áreas inundadas que, de outra forma, estariam ocultas pelo mau tempo, fornecendo ajuda às equipes de resgate.
O satélite poderia ter ajudado após o terremoto de magnitude 8,8 na costa do extremo oriente da Rússia na última quarta-feira (29) e o subsequente tsunami.
“São esses tipos de eventos que nos lembram quão importantes serão os tipos de medições que o Nisar fará”, afirmou Sue Owen, cientista-chefe adjunta do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. “Eles nos ajudarão a prever onde esses tipos de eventos ocorrem, bem como avaliar os danos após esses terremotos e tsunamis.”
Os primeiros 90 dias serão dedicados à implantação da nave, incluindo a extensão de um refletor de antena de malha banhada a ouro de nove metros de largura, que se parece um pouco com um guarda-sol gigante, testando os instrumentos e realizando observações iniciais.
A missão principal está programada para durar três anos. Se a nave espacial ainda estiver operacional nesse ponto, terá combustível suficiente para continuar por mais alguns anos.
A tecnologia conhecida como radar de abertura sintética tem sido usada no espaço há décadas. Enviar e receber múltiplos pulsos de radar simula uma antena muito maior, permitindo que características menores no solo sejam observadas.
Um instrumento de radar de abertura sintética que voou no ônibus espacial Endeavour da Nasa em 1994, por exemplo, pesquisou uma “cidade perdida” enterrada na Península Arábica e procurou ruínas centenárias ao longo da Rota da Seda no oeste da China.
O que é diferente no Nisar é que ele refletirá ondas de radar em quase toda a superfície da Terra e o fará repetidamente —duas vezes a cada 12 dias.
Isso permitirá que cientistas detectem pequenas mudanças, como deslizamentos de terra em câmera lenta, e monitorem lugares como a Antártida, que são distantes e inóspitos.
O Nisar “cobrirá toda a Antártida pela primeira vez”, disse Eric Rignot, glaciologista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa na Califórnia. “Realizar essas medições na Antártida seria praticamente impossível para equipes terrestres, porque o continente é tão vasto.”
Os dados do Nisar vão rastrear o movimento de geleiras e camadas de gelo. “Os cientistas poderão usar essas informações em modelos climáticos para projetar como seria o nível do mar nos próximos anos, nas próximas décadas, no próximo século, para que possamos proteger melhor a sociedade e também salvar vidas humanas”, afirmou Rignot.
Siqueira disse que o Nisar também poderia rastrear o crescimento das plantações.
Micro-ondas ricocheteiam na água, então um campo de plantas saudáveis aparecerá mais brilhante. “Se uma planta estiver dessecada, ela será mais transparente ao radar”, disse Siqueira.
A parte principal da nave espacial tem 5,5 metros de comprimento e pesa mais de 2.270 quilos. Dois painéis solares de 5,5 metros de comprimento irão gerar energia.
O satélite inclui dois sistemas de radar. Um, construído pela Nasa, transmitirá micro-ondas com um comprimento de onda de 25 centímetros. O outro, feito pela Isro, transmite micro-ondas de dez centímetros de comprimento.
Os dois comprimentos de onda fornecerão detalhes em diferentes escalas de tamanho. Para o estudo da vegetação, os de onda mais curtos fornecerão mais detalhes sobre arbustos e moitas, enquanto os de onda mais longos fornecerão uma imagem mais clara de plantas mais altas como árvores.
A quantidade de dados será quase esmagadora —terabytes todos os dias. Um desafio na concepção da missão foi descobrir como enviar essa quantidade de dados para o solo e depois como processá-los.
A participação da Nasa na missão custou US$ 1,2 bilhão, e a da Isro foi comparável, segundo representantes da Nasa.
Fonte ==> Folha SP – TEC