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Série em que Netflix mais insistiu tem sintonia com os jovens – 12/03/2025 – Maurício Stycer

Série em que Netflix mais insistiu tem sintonia com os jovens - 12/03/2025 - Maurício Stycer

De todas as experiências que a Netflix fez no Brasil até hoje, “Sintonia” se destaca como a série em que a empresa mais insistiu. Foram cinco temporadas, lançadas entre agosto de 2019 e fevereiro de 2025, num total de 32 episódios.

A aposta que mais se aproximou dessa foi a ficção científica “3%”, primeira produção brasileira da Netflix, exibida em quatro temporadas, entre 2016 e 2020, com 33 episódios.

Demorei para mergulhar na primeira temporada de “Sintonia” porque o pouco a que assisti, inicialmente, me incomodou. O didatismo exagerado do texto e a caracterização muito esquemática do trio de protagonistas me fizeram rejeitar a série. Meses depois da estreia, ouvindo comentários aqui e ali, resolvi dar uma segunda chance.


Fui capturado pelas cenas em que um dos protagonistas é confrontado por integrantes de uma facção criminosa da qual faz parte. Muitos filmes e séries já buscaram representar esses “tribunais do crime”, mas não lembro ter visto nada tão impressionante, em matéria de prosódia e interpretação, quanto em “Sintonia”.

A série, idealizada e inicialmente dirigida pelo produtor e empresário KondZilla, gira em torno da amizade de três amigos que vivem em uma “quebrada” em São Paulo: o aspirante a cantor Doni (MC Jottapê), o criminoso Nando (Christian Malheiros) e a evangélica Rita (Bruna Mascarenhas).

A ascensão e queda do traficante está longe de ser original, mas é o que mais movimenta a série, muito em função do talento de Malheiros, o grande ator da série.

Da mesma forma, a trajetória do cantor de funk traz poucas novidades na representação dos altos e baixos de artistas submetidos às regras da indústria musical. Ainda que sem traquejo como ator, Jottapê traz algum frescor no papel, mas a sua história avança pouco ao longo da história.

Já Rita foi a personagem que ofereceu aos roteiristas mais possibilidades de uma trama de crescimento. Sem família e com poucas perspectivas, ela inicialmente se deixa acolher pela pastora de uma igreja do bairro. Na segunda temporada, ajuda a mostrar os interesses políticos e a ambição de ascensão social de um casal de religiosos. E, na terceira, ao disputar uma eleição, se dá conta que virou, nas suas palavras, “um emoji evangélico”.


Casada com um ex-criminoso que vira entregador de aplicativo, Rita estuda direito e consegue trabalho com um advogado de direitos humanos. Na última temporada, ela é contratada por um escritório importante e mostra o seu talento na gestão de casos complexos.

Dando claros sinais de esgotamento, a quinta temporada é a mais fraca de todas. Sem muita história para desenvolver, o que sobressai é o texto frequentemente simplório, que parece estar sempre alertando o jovem espectador a ficar esperto e evitar os maus caminhos.

A Netflix não divulga dados claros de audiência nem o perfil do público. Em todo caso, pela repercussão nas redes sociais e nos eventos que a própria empresa fez para promover as temporadas, parece evidente que “Sintonia” alcançou um espectador jovem e de perfil socioeconômico com potencial de enxergar pontos de contato com a série.

Dialogar com adolescentes e adultos jovens não é nada fácil, e o investimento da Netflix em “Sintonia” sugere que a empresa conseguiu cativar esses universos. Não é pouca coisa.



Fonte ==> Folha SP

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