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Tarifas de Trump começam a mudar fluxos de comércio | Opinião

Tarifas de Trump começam a mudar fluxos de comércio | Opinião

A guerra tarifária de Donald Trump começou a provocar mudanças significativas nos fluxos do comércio internacional. Diante de tarifas punitivas dos EUA, os exportadores chineses compensaram as perdas no mercado americano desviando seus produtos para outros destinos. Como consequência, outros grandes exportadores, como a União Europeia e o Japão, começam a ver uma queda nos embarques não só para os EUA, mas em geral, sugerindo um ambiente exportador mais desafiador com uma concorrência chinesa mais acirrada.

As ameaças de Trump de impor tarifas de importação generalizadas ao tomar posse desencadearam uma onda de importações nos EUA, com as empresas buscando se antecipar ao aumento no imposto, dando forte impulso ao comércio global no início do ano. Segundo a OMC, o comércio de bens em volume cresceu 3,6% nos três primeiros meses do ano sobre o trimestre anterior e 5,3% na comparação anual. Puxada pelos EUA, a América do Norte teve o maior crescimento nas importações em comparação a todas as demais regiões, 13,4% no trimestre.

No lado das exportações, a China aumentou suas vendas em 6%, em termos anuais, tanto no primeiro quanto no segundo trimestre. Esse resultado desafiou as expectativas, destacando a flexibilidade do setor de manufatura e exportação do país diante da turbulência comercial com os EUA. Parte da força das exportações chinesas pode ser atribuída a uma trégua temporária firmada entre as duas potências em junho.

A China encerrou o primeiro semestre do ano com um superávit comercial recorde de cerca de US$ 586 bilhões. Embora os EUA sejam o maior destino individual de produtos fabricados na China, os exportadores chineses conseguiram compensar o impacto da queda de 10,9% nas exportações ao mercado americano aumentando os embarques para o Sudeste Asiático em 13%, para a África em 22%, para a América Latina em 7,2% e para a União Europeia em 6,6%.

Não está claro quanto das exportações chinesas para outras regiões acabou tendo como destino final os EUA. Mas a reconfiguração dos fluxos comerciais globais levantou preocupações em Washington de que a China esteja usando outros países para vender produtos seus. No acordo comercial com o Vietnã, anunciado no início deste mês, o governo Trump incluiu uma cláusula que exige tarifas mais altas sobre mercadorias de transbordo — referência aos produtos redirecionados para o Vietnã antes de serem enviados aos EUA. Washington não citou a China, nem explicou como esse redirecionamento seria definido ou policiado. Mas em Pequim há poucas dúvidas de que a medida mira seus produtos.

Além dessa abordagem do governo Trump, muitos países começam a erguer barreiras contra o excesso de importações chinesas baratas, como Índia, União Europeia, Canadá e Brasil, entre outros. As restrições ao maior mercado consumidor do mundo e a fraqueza do mercado interno da China não deixa outra opção aos exportadores chineses a não ser buscar mercados alternativos. Em um momento que todos os demais países fazem o mesmo em reação às ameaças de tarifas punitivas de Trump, a abertura de novos mercados se tornou mais desafiadora diante dos baixos preços dos produtos chineses — que refletem a forte concorrência interna na China derivada do excesso de capacidade produtiva.

A perspectiva de mais barreiras comerciais a produtos originários da China, bem como a incerteza em torno das negociações comerciais com o governo Trump antes de 1 de agosto, novo prazo para entrada em vigor das tarifas “recíprocas” elevadas, nublam as perspectivas para o comércio internacional até o fim do ano. A OMC prevê uma estagnação no comércio global, com crescimento marginal de 0,1% no ano.

Os dados mensais mais recentes do comércio de muitos países dão evidências de que a demanda por importações já começou a desacelerar no segundo trimestre. Por exemplo, as importações dos EUA cresceram apenas 1% em abril e maio, após um aumento de 25% no primeiro trimestre. Relatório do Departamento do Comércio aponta que as varejistas americanas de eletrônicos e eletrodomésticos, de móveis e lojas de departamento registraram queda nas vendas em junho. Os produtos vendidos nesses setores são em grande parte importados.

As exportações da Europa para os EUA caíram pelo segundo mês consecutivo em maio e, no total, recuaram caíram 0,8%. O Japão, outro grande exportador global, viu seus embarques contraírem 0,5% em termos anuais em junho, ampliando a queda de 1,7% em maio. As exportações para a China, maior parceiro comercial do Japão, caíram 4,7%, enquanto para os EUA recuaram 11,4%.

As exportações do Brasil para a China caíram 7,6% no primeiro semestre, e suas compras do país asiático subiram 21,4%. O país aumentou importações de todos os principais países com os quais comercia, exceto Rússia. O saldo comercial caiu 27,6%, com desaceleração das exportações e maior expansão das compras, um prenúncio de que, com o protecionismo americano, a competição se acirrou e de que a China leva vantagem também no mercado brasileiro.



Fonte ==> Exame

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