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Tim Friede diz ter ser picado 200 vezes por cobras – 12/06/2025 – Ciência

Um homem de cabelo raspado está posicionado de perfil, olhando para uma cobra que se encontra sobre seu braço estendido. O fundo é escuro, destacando a figura do homem e a cobra. O homem usa uma camiseta preta e parece calmo enquanto interage com o animal.

Tim Friede diz que estava se sentindo deprimido no dia seguinte ao 11 de setembro de 2001, quando terroristas promoveram uma série de atentados contra os Estados Unidos. Então, segundo ele, foi para o porão de sua casa e deixou que duas das cobras mais mortais do mundo o mordessem.

Quatro dias depois, acordou de um coma.

“Sei como é a sensação de morrer por causa de uma picada de cobra”, afirma Friede à AFP por videochamada de sua casa na pequena cidade americana de Two Rivers, Wisconsin.

Friede diz que, de 2000 a 2018, foi picado por cobras mais de 200 vezes e teve o veneno delas injetado mais de 650 vezes.

Suportou essa dor, de acordo com ele, porque queria obter imunidade total ao veneno, uma prática chamada mitridatismo, que ninguém deve tentar por conta própria.

Alguns anos depois de iniciar esse experimento peculiar, Friede afirma que teve a ideia de que poderia ser a base para um tipo melhor de antídoto.

No mês passado, um estudo publicado na revista Cell mostrou que os anticorpos no sangue deles protegem contra vários venenos de cobras.

Agora, os pesquisadores esperam que a hiperimunidade de Friede possa levar a um antídoto universal.

A maioria dos soros antiofídicos atuais abrange apenas uma ou algumas das 600 cobras venenosas do mundo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 138 mil pessoas morrem de picadas de cobra a cada ano. Outras 400 mil ficam com sequelas, como amputações.

Acredita-se, contudo, que esses números sejam subestimados porque as vítimas geralmente vivem em áreas remotas e pobres.

Durante anos, Friede procurou cientistas para tirarem proveito de sua imunidade. Mas eles se recusavam a participar de seu projeto.

Até que em 2017 Jacob Glanville entrou em contato com ele.

O imunologista, CEO da americana Centivax, diz à AFP que estava procurando “um pesquisador de cobras desajeitado que havia sido mordido acidentalmente algumas vezes”.

O especialista se deparou com um vídeo de Friede recebendo consecutivas picadas de cobra que deveriam ter sido fatais.

Quando conversaram pela primeira vez, Glanville disse a Friede: “Sei que isso é estranho, mas eu adoraria ter um pouco do seu sangue”.

“Estou esperando essa ligação há muito tempo”, respondeu Friede, de acordo com o imunologista.

O antídoto descrito no artigo da Cell inclui dois anticorpos para o sangue de Friede, bem como um medicamento chamado varespladib.

O antídoto ofereceu aos camundongos utilizados como cobaias proteção total contra 13 das 19 espécies de serpentes testadas e proteção parcial para as seis restantes.

Os pesquisadores esperam que um coquetel futuro abranja muito mais cobras, especialmente víboras. Há planos de conduzir testes em cães na Austrália.

Timothy Jackson, da Australian Venom Research Unit, elogiou a pesquisa imunológica. Ele questionou, porém, se era necessário envolver um ser humano no experimento, já que anticorpos desenvolvidos sinteticamente já estão disponíveis.

Glanville diz que o objetivo final de sua empresa é desenvolver um antídoto universal, que seria administrado por meio de um autoinjetor e possivelmente produzido na Índia para manter os custos baixos.

Friede afirma estar orgulhoso por ter feito uma “pequena diferença” na história da medicina.



Fonte ==> Folha SP – TEC

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