“Projeto Terceiro Mandato. Trump para 2028… e além”. Era o que dizia um pôster erguido durante a última Conferência de Ação Política Conservadora (Cpac, na sigla em inglês) que ocorreu em Washington entre os dias 20 e 22 de fevereiro deste ano.
A frase, acompanhada de uma imagem de Trump vestido como Júlio César, sintetiza o espírito da campanha por sua continuidade no poder. Seu principal líder é o trumpista Shane Trejo, que já atuou como coapresentador de um podcast neonazista chamado “Sangue, Solo e Liberdade” (Blood Soil and Liberty).
A iniciativa está longe de ser algo promovido apenas por um punhado de extremistas tresloucados. Trump já deixou muito clara sua intenção de permanecer no poder. Em respostas à imprensa norte-americana sobre o tema já afirmou: “Não estou brincando”. Confrontado com os impedimentos constitucionais atualmente existentes, disse que “existem métodos” para que isso se torne realidade e que “muitas pessoas” desejam um terceiro mandato.
É importante lembrar que “muitas pessoas” não é uma referência à maioria dos norte-americanos, mas sim à base de apoio de Trump. Assim como Shane Trejo, existem milhares de líderes, ativistas e eleitores extremamente comprometidos com as causas que Trump defende.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Economist/YouGov, publicada no dia 9 de abril, 81% dos republicanos trumpistas apoiam as recentes tarifas aplicadas pelo presidente americano, incluindo uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações, bem como taxas mais altas para a maioria dos países.
Republicanos trumpistas são aqueles que formam a base mais fiel de apoiadores de Trump, ou seja, os eleitores do partido Republicano que se identificam com o movimento “Make America Great Again” (Faça a América Grande Novamente), abreviado pela sigla “MAGA”. Entre estas pessoas, apenas 7% desaprovam as tarifas.
Mesmo entre republicanos que não se identificam com o “MAGA”, as tarifas de Trump são amplamente apoiadas. Mais de dois terços dos “republicanos não-MAGA” (65%) aprovam as tarifas, e apenas 26% desaprovam. A desaprovação aumenta entre eleitores independentes (56%) e é majoritária entre os democratas (87%).
Uma divisão política similar também aparece no que diz respeito às opiniões sobre o impacto das tarifas no aumento de preços ao consumidor. Apenas 15% dos eleitores republicanos consideram que os preços irão aumentar muito, a maioria (58%) espera um aumento pequeno. Ao mesmo tempo, metade dos eleitores independentes (50%) e a maioria dos democratas (78%) acreditam que irá ocorrer um grande aumento de preços.
Além disso, é importante notar que, para os republicanos, os principais problemas do país estão relacionados à imigração ilegal (72%) e crime (50%), e não a um potencial aumento de preços. A inflação aparece como um problema importante apenas para os democratas (66%), empatada com corrupção (67%) e desigualdade social (66%).
Ou seja, o apoio a Trump não só tem a ver com outras prioridades, mas condiciona como seus eleitores interpretam potenciais prejuízos econômicos. Em outras palavras, enquanto Trump permanecer coerente com os princípios do “MAGA”, ele poderá contar com o apoio entusiasmado de sua base para 2028… e além.
Fonte ==> Folha SP