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Visões do massacre do Carandiru vão a Pinacoteca e MNBA – 11/08/2025 – Plástico

A imagem retrata um pátio de prisão com paredes amarelas e várias janelas. O chão está coberto de uma substância vermelha, possivelmente simbolizando sangue. Há várias figuras humanas, algumas em pé e outras agachadas, com expressões que sugerem sofrimento. Algumas pessoas estão interagindo entre si, enquanto outras parecem estar isoladas. O ambiente é sombrio e opressivo, com uma atmosfera de desespero.

Os homens parecem gritar num mar de sangue, eles também nus cobertos de manchas vermelhas no que parece uma visão do inferno. Estão todos emoldurados pelas grossas paredes de concreto no pátio do velho Carandiru, o presídio paulistano cenário de uma chacina que deixou 111 detentos mortos na década de 1990.

O episódio entrou para a história como o mais sangrento da realidade carcerária do país, estampando capas de jornais e revistas com imagens escabrosas de cadáveres empilhados e rios vermelhos inundando galerias de concreto. Também já foi alvo de artistas em obras acachapantes, como aquelas de um minimalismo seco, às avessas, de Nuno Ramos.

Tudo é relembrado agora, no entanto, por uma testemunha ocular. Luiz Paulino, condenado por dois assassinatos, passou 13 anos encarcerado no velho presídio, onde aprendeu a esculpir e pintar. Viu tudo, sobreviveu ao massacre e retratou aquelas cenas, em chave às vezes realista, às vezes surrealista, com tons de cor lisérgicos, em telas assombrosas.

Seriam obras de um ex-detento destinadas ao underground, matéria-prima de primeira de um artista naïf, não fosse um encontro ao acaso. O editor e livreiro Alexandre Martins Fontes, figura de relevância no meio editorial, deu com as telas de Paulino por acaso quando buscava um auditório para realizar um evento. O artista tinha algumas de suas obras à mostra na Escola de Sociologia e Política, em São Paulo.

Martins Fontes, também um colecionador de arte atento ao mercado, logo apresentou Paulino a críticos e curadores, entre eles Ricardo Ortiz Kugelmas, à frente do centro cultural Auroras, em São Paulo, e Bernardo Mosqueira, o que acabou rendendo uma primeira mostra institucional do artista, no Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro, em maio deste ano.

E o resto é história —Luiz Paulino acaba de ter duas telas compradas para o acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, e outra pela Pinacoteca do Estado de São Paulo. O artista também será alvo de um livro organizado por Paulo Herkenhoff, um dos maiores curadores da história do país, com artigos de nomes de peso da cena artística.



Fonte ==> Folha SP

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