Depois de se apresentar em palco e horário nobres no Coachella, o XG desembarcou no Brasil para um show em São Paulo, na última quinta (24). Pela primeira vez no país, o grupo feminino esgotou os ingressos e fez uma performance tão profissional quanto a do festival de música americano, um dos maiores do mundo.
O XG não é exatamente k-pop: as integrantes são japonesas e cantam em inglês. Tampouco é j-pop, o equivalente japonês, pois foram treinadas na indústria do pop da Coreia do Sul e divulgam o trabalho na TV coreana. Elas se definem como um grupo global.
K-pop, j-pop ou x-pop, o septeto lançado há três anos por uma gravadora desconhecida dá um banho em muitos grupos asiáticos, novatos ou não. Todas dançam e cantam muito bem, até mesmo as rappers —que sabem fazer rap de verdade, em línguas além da nativa.
As sete entregaram ao público brasileiro, cerca de 4.000 pessoas, a mesma qualidade de performance vista nos clipes e apresentações lá fora. Afinal, é comum encontrar integrantes que não dedicam tanta energia nos shows por aqui.
Jurin, Chisa, Hinata, Harvey, Juria, Maya e Cocona chegaram fazendo pose, vestindo roupas prateadas e óculos escuros que cobriam metade do rosto, numa pegada futurista. Começaram com “Shooting Star”, canção que impulsionou o grupo, numa versão rock. Depois de um dance break, cantaram “Howling” e fizeram o público uivar junto. Emendaram “Woke Up”, carregada de rap.
Após uma pausa, retornaram com outro conceito: agora, elas eram alienígenas. As roupas tinham cores vibrantes, cheias de estampas e fru-frus, num estilo à lá Etevaldo. Essa sequência trouxe músicas dançantes, como “TGIF” e “Something Ain’t Right”.
É um estilo que destoa da estética do k-pop e se aproxima da moda do Japão, levando o kitsch ao máximo. O figurino incluía peças coloridas, sobreposições e acessórios extravagantes, como luva com unhas e pelos e tiara de chifres.
Em contraste, o palco era sem firulas, só com telão. As integrantes têm presença e confiança. Interagiram com o público em poucos intervalos e, sem intérprete, falaram em inglês e frases decoradas em português.
As sete fizeram apresentações solo, que incluíram covers de Lady Gaga, Taylor Swift e Gwen Stefani. Cocona, ostentando o cabelo raspado, fez ao vivo o rap de “Galz Xypher” que a tornou conhecida.
Na recente “In the Rain”, dançaram com guarda-chuvas e blazers over-sized. “Left Right” foi apresentada numa versão lenta, e em “Winter Without You” exibiram os vocais em harmonia.
O show, no entanto, também teve pontos fracos. Em algumas músicas, a base pré-gravada estava mais alta do que a voz ao vivo. Uma longa pausa com telão parado perto do fim quebrou o ritmo e fez a atenção se voltar para os celulares. Elas repetiram “Shooting Star” e “Left Right” em versões diferentes –podiam ter cantado “Grl Gvng” e “Mascara”.
A apresentação no Tokio Marine Hall foi a única parada na América do Sul da turnê “The First Howl”, que percorre 18 países.
O XG já se mostra um grupo maduro. Mas tal nível de qualidade não surgiu do nada. Vídeos nos telões mostravam as integrantes ainda adolescentes, passando por treinos rigorosos, chorando de preocupação e sonhando com uma carreira de sucesso. Elas se preparavam desde 2017 e em 2022 debutaram.
O septeto ganhou destaque ainda novato, com trechos de coreografias mega sincronizadas e performances sem desafinar que viralizaram. São frequentes os vídeos de “react” com marmanjos de queixo no chão com o flow das rappers —o hip hop tem forte influência no som do XG, assim como o R&B.
A maioria dos fãs estão inseridos no k-pop, mas as músicas em inglês ajudam a alcançar um público mais amplo. O reconhecimento, por fim, veio pelo talento, e não por marketing excessivo. Num mercado tão saturado de grupos medianos, o XG é um respiro.
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Fonte ==> Folha SP