As plantas já nos ajudam de inúmeras maneiras, nos alimentando, nos vestindo e fornecendo o ar que respiramos. Um dia, elas também poderão nos ajudar a encontrar o caminho para o banheiro durante a noite.
Em um artigo publicado no mês passado na revista Matter, pesquisadores da Universidade Agrícola do Sul da China descrevem como criaram plantas que brilham no escuro injetando materiais sintéticos nos tecidos de suculentas vivas.
Esses vegetais biônicos podem ser feitos para emitir luz em uma variedade de cores e podem “recarregar” com exposição à luz. Mas eles ainda não estão totalmente prontos para o horário nobre (ou para a hora de dormir).
As suculentas receberam seu brilho no Laboratório Key for Biobased Materials and Energy (algo como laboratório para materiais e energia de base biológica) da universidade. Os pesquisadores edsse local frequentemente exploram combinações de tecnologia e plantas, como em um artigo de 2018 que descreve o uso de nanopartículas de carbono para tornar a fotossíntese mais eficiente. Para este projeto, eles queriam criar “uma lâmpada de planta viva, carregada por luz”, disse Shuting Liu, afiliada ao laboratório e primeira autora do artigo.
Embora plantas brilhantes tenham dado atmosfera a muitos mundos de ficção científica e fantasia, elas existem em nosso mundo real apenas desde a década de 1980, quando pesquisadores da Universidade da Califórnia, San Diego, inseriram um gene de vagalumes em plantas de tabaco. Mais recentemente, outros grupos criaram plantas luminosas, incluindo petúnias brilhantes disponíveis comercialmente. Essas foram feitas com genes de bactérias e fungos bioluminescentes.
Em vez de tomar emprestado de outras espécies, Liu e seus colegas decidiram trabalhar com um material feito pelo homem chamado aluminato de estrôncio, o mesmo material das estrelas que brilham no escuro que você pode fixar no teto do seu quarto. Diferentemente da bioluminescência, que é produzida por reações químicas contínuas, o aluminato de estrôncio exibe fosforescência: absorve e armazena energia da luz externa e depois a libera lentamente ao longo do tempo.
Embora o aluminato de estrôncio já tenha sido incorporado em plantas antes, Liu queria ver se poderia obter um brilho mais intenso e duradouro usando partículas maiores, cada uma com aproximadamente o tamanho de um glóbulo vermelho humano.
Por um tempo, ela disse, isso significou “tentativa e erro contínuos” enquanto ela injetava diferentes plantas. Naquelas como o bok choy e o pothos, as partículas ficavam presas dentro do tecido vegetal, com resultados irregulares.
Eventualmente, Liu se voltou para uma suculenta em forma de roseta chamada Echeveria Mebina. Nesta planta, ela descobriu que “o tamanho dos canais intercelulares é perfeito” para produzir um brilho uniforme. “Em apenas alguns segundos, uma folha inteira estava cintilando”, disse ela. “Fiquei impressionada com o quão bonito parecia, quase como esmeraldas brilhantes.”
Após exposição à luz externa, as plantas brilham brevemente com uma intensidade equivalente à de uma vela, e continuam emitindo luminescência por pelo menos duas horas. Usando diferentes materiais para fazer as partículas, os pesquisadores criaram uma variedade de cores, com espécimes vermelhos, laranja e multicoloridos ao lado do clássico verde de béquer misterioso.
“As imagens luminescentes são bonitas, e a abordagem claramente funciona”, disse Scott Lenaghan, diretor do Centro de Biologia Sintética Agrícola da Universidade do Tennessee, que não esteve envolvido na pesquisa.
Mas “as aplicações para a tecnologia, como está, são relativamente limitadas”, disse ele. Alcançar uma lâmpada de planta funcional com este método exigiria estender significativamente a duração da luminescência, um desafio considerável, afirmou.
Além disso, a técnica compromete a promessa ecológica de uma planta auto-iluminante. Embora as plantas modificadas dessa maneira possam hipoteticamente ser fontes de luz de baixo consumo energético, elas são preenchidas com materiais sintéticos cujo impacto eventual é desconhecido. “O que acontece com as micropartículas quando a planta morre?” perguntou Lenaghan. “Esta deveria ser uma preocupação primária para qualquer uma dessas tecnologias feitas pelo homem.”
Liu concorda que há muito trabalho a ser feito, inclusive para reduzir o impacto ambiental, e espera que outros pesquisadores se juntem. “Nesta fase, nossa prioridade era estabelecer a prova de conceito”, disse ela.
Ela ainda sonha com uma luz noturna de planta, que imagina como “uma pequena suculenta sob uma redoma de vidro, brilhando silenciosamente por conta própria à noite”, disse ela. “Eu realmente acredito que isso se tornará realidade.”
Fonte ==> Folha SP – TEC