Thamara Di Lauro chegou ao mercado financeiro com um currículo invejável: cirurgiã-dentista bem-sucedida, especializada, estabilizada financeiramente e cercada por uma família inteira de profissionais da saúde.
Mas foi justamente esse histórico de vitórias que quase a tirou do jogo no day trade. “Eu não aceitava ganhar menos do que eu fazia na odontologia”, conta.
A frase, que parece apenas um ponto de partida, resume um erro comum e perigoso: achar que sucesso em outra profissão garante performance no mercado.
Convidada do 1° episódio e 4ª temporada do programa Mapa Mental, no canal GainCast, Thamara contou como a transição de uma carreira sólida na área da saúde para o mercado financeiro expôs uma dura verdade: o que funciona em uma profissão não necessariamente se aplica ao trading.
Da odontologia ao mercado financeiro
Natural da Bahia e vinda de uma família com 17 dentistas, Thamara parecia predestinada ao jaleco.
“Eu nasci numa família de cultura ali familiar da área de saúde. Então já nasci nesse berço ali da área de saúde. Eu brinco que foi meio que por osmose que eu acabei fazendo odontologia”, relata.
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A profissão trouxe estabilidade e sucesso, mas também um incômodo constante: a sensação de estar presa.
“Eu via os meus tios com 50, 55 anos presos dentro do consultório, e eu me enxergava ali. Eu falava: ‘Não, eu não me enxergo daqui a 10 anos presa na cadeira de dentista’”, explica.
O desejo de mudança veio com força e, em 2019, ela começou a explorar novas possibilidades — até cair, de cabeça, no mercado financeiro — e, como muitos iniciantes, acreditou que bastaria aplicar sua disciplina e inteligência para ter sucesso.
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“Eu fui muito (ao trader) com esse tom arrojado. Falei: ‘Se eu consegui sucesso na outra área, aqui não vai ser diferente’.”
A autoconfiança que virou armadilha
Mas o excesso de confiança custou caro. Thamara não entrou aos poucos. Não testou. Não simulou. Ela decidiu operar pesado desde o início.
“Eu comecei com 50 contratos de mini-índice Brasil. Então dá pra saber que eu fui muito agressiva”, admite. O impulso tinha nome: autoconfiança.
Mas a resposta do mercado foi implacável, e o resultado não demorou a aparecer — e não foi positivo. “Isso foi um grande erro. Preciso citar que isso não é legal, não é correto. Foi um erro meu e não à toa que eu sofri muito”, observa.
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Os prejuízos se multiplicaram. As noites se tornaram pesadas. E, no fundo, havia uma urgência velada de manter o mesmo padrão de vida que ela tinha conquistado na odontologia.
“Essa cobrança interna me levava a operar de forma impulsiva, recusando-se a aceitar perdas… Eu não aceitava o loss, eu ia pra cima do mercado.”
Quando o ego atrapalha mais que a técnica
O que parecia técnica era, na verdade, tentativa de controle. E o que parecia ambição, era medo disfarçado. Os prejuízos vieram não apenas no financeiro, mas também no emocional.
“Eu fui muito com essa identidade de independência e autossuficiência, e isso me prejudicou muito. Eu achava que o problema estava no mercado, até entender que o problema estava em mim”, reconhece.
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Foi só ao se ver no chão — emocionalmente drenada, mentalmente devastada — que ela começou a assimilar o verdadeiro desafio do trading: lidar com o próprio ego.
“O mercado é um espelho. Se ele está mostrando tudo isso e não está dando certo, o problema está em mim, não está nele. O mercado não é o problema.”
Muito além da técnica
Thamara entendeu, na dor, que o mercado não exige apenas conhecimento técnico, mas principalmente humildade emocional.
“Ninguém fica no mercado se for só pelo dinheiro. Eu vi que estava apaixonada pelo ambiente e sabia que só dependia de mim.”
Sua história é a prova de que a transição de carreira estável para o day trade exige mais do que coragem — exige desconstrução, reaprendizado e consciência de que a performance emocional pesa mais do que qualquer diploma.
E que, por trás de cada clique no gráfico, há um espelho — pronto para mostrar a melhor ou a pior versão de quem o encara.
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Fonte ==> Exame