Apresente uma combinação entre qualquer uma das 3 mil matérias-primas disponíveis na perfumaria a Cesar Veiga. A chance de ele errar quais ingredientes foram usados é virtualmente zero.
“Meu nariz é como qualquer um. Fisiologicamente, é a mesma coisa, mas ele é treinado”, conta o perfumista do Grupo Boticário, ao InfoMoneyàs vésperas deste domingo (21) em que se celebra o Dia do Perfumista.
Coloca treino nisso. Perfumistas profissionais investem de 5 a 10 anos em formação para distinguir fragrâncias que variam de rosas e folhas de laranjeira naturais a aromas sintéticos obtidos por meio de processos químicos como a baunilha.
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Há duas vias para conseguir a certificação: a primeira, única por meio de uma instituição de ensino, é se matricular no curso de Design e Criação de Aromas da ISIPCA, a sigla em francês para o Instituto Superior Internacional de Perfumes, Cosméticos e Aromáticos Alimentares; a segunda, mais comum, é fazer o treinamento na indústria, a partir de uma empresa do ramo.
Esse treinamento “interno“, atrelado às escolas internas das chamadas casas de fragrância — fornecedoras dos “cheiros” que compõem os perfumes em todo o mundo –, leva cerca de três anos, e dura até que o perfumista guarde na memória os mais de 3 mil ingredientes básicos para a criação de perfumes.
“É como aprender música”, compara Veiga, que já havia passado pelo curso técnico de laboratório e graduação em Farmácia.
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Primeiro vêm os “acordes”, mistura de três a cinco matérias primas para chegar a um novo odor. Depois os perfumistas em formação reproduzem produtos do mercado apenas com base no olfato. O Grande final é aprender a “composição”, elaborar um perfume próprio com base em uma inspiração subjetiva: pode ser um Natal no inverno ou um passeio por uma vinícola, por exemplo.
Boa parte do trabalho, inclusive, não tem a ver com as narinas. “Tem a questão da sensibilidade e do talento. Daí a parte artística. Uma pessoa muito racional não consegue entender que perfumaria é emocional”, explica Veiga.
Ele próprio é um bom exemplo. Das aulas de piano à aquarela, o perfumista costuma buscar inspirações nas artes: “Sou visual. Para mim, locais são inspiração. Arquitetura, cores, peças de arte. Consigo ver um quadro e na minha cabeça se forma uma fragrância interpretando o cheiro daquelas cores”.
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Por muito tempo, explica Veiga, perfumistas tinham uma formação anterior em graduações de Química ou Farmácia. Hoje, no entanto, muitos profissionais vêm inclusive das artes plásticas. “Não é uma precondição ter um curso técnico, mas há o pré-requisito de entender um pouco de química.”
Um dia de trabalho de um perfumista — ou ao menos de Veiga — nunca é o mesmo. Ele pode estar em um museu da Europa buscando por inspirações hoje, no restaurante de um bairro legal na Ásia amanhã ou no laboratório do Grupo Boticário no Brasil extraindo novas essências via métodos químicos para um novo perfume.
“Minha rotina é chegar, avaliar produtos e projetos que estão em andamento, mas também olhar muito essa questão mais estratégica das novas matérias-primas, de conceito”, explica o perfumista. “Trabalhar muito com o que está vindo. Questões de futurismo, de estar atento a informações, sinais que podem virar uma tendência e essa tendência virar um produto convencional Sem futuro. “
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Nem mesmo uma profissão que tem como base um sentido humano está escapando do impacto da IA no mercado de trabalho — e, na avaliação de Veiga, de uma forma positiva. Ele já usa, por exemplo, conjuntos de dados para entender fragrâncias com maior aderência em determinados grupos.
“Temos muitas informações tiradas de pesquisas de mercado, pesquisa do consumidor. Tudo vai para uma referência que faz o cruzamento das informações. Nos ajuda com mais rapidez a fazer sugestões”, diz.
Para cada perfume que vai desenvolver, Veiga recebe um resumo. Por exemplo: um produto para atingir uma mulher de 35 a 45 anos, contemporânea, com filhos e no momento de plenitude da vida. Realizada e romântica. Com a inteligência artificial, é possível entender quais notas já agradam a esse perfil e ser mais assertivo na construção do perfume.
Fonte ==> Exame